Docentes da FAT apontam situação de abandono e invisibilidade: “A Uerj não nos enxerga” | Especial Resende

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A Asduerj visitou, no mês de setembro, a Faculdade de Tecnologia da Uerj (FAT), localizada na cidade de Resende, Sul Fluminense. A visita deu seguimento ao levantamento das condições de trabalho nas unidades acadêmicas, após o anúncio pela reitoria da criação de novos cursos e campi, a despeito de uma evidente precariedade nas estruturas já existentes na universidade.

Citada por muitos dirigentes como um caso de sucesso da expansão da Uerj para outros municípios, a FAT não escapa, porém, ao quadro de deficiência estrutural comum aos demais campi da universidade. No seu caso específico, acresce-se ainda uma condição de abandono e invisibilidade, que impede o crescimento da faculdade como centro formador de estudantes universitários na região, segundo um grupo de docentes da unidade que se reuniu com a diretoria da Asduerj, no dia 8/9.

Diversificação da porta de entrada para novos alunos é uma necessidade

O sentimento que se expressou a partir do relato destes docentes foi o de não pertencimento. “A Uerj não nos enxerga”, afirmou um deles. “Estamos aquém do Uerj Resiste, a gente parece que não existe”, lamentou outro. A falta de uma sinalização adequada à presença da universidade no local é inclusive uma das demandas da unidade. Já solicitamos providências a esse respeito à Prefeitura dos campi, mas não obtivermos retorno, declarou o vice-diretor da FAT, Bernardo da Fonseca.

Para esses docentes, a invisibilidade seria uma das principais causas do que consideram um problema central da unidade. A FAT tem potencial para receber um número muito maior de alunos por semestre do que ocorre hoje. “A gente faz um esforço para dar palestras em escolas, apresentando os cursos, mas o resultado não tem sido efetivo. Fizemos, no ano passado, 20 palestras online, mas não temos como competir com o bombardeio feito pelas particulares, que se utilizam de vários meios, inclusive a TV”, lamenta a coordenadora do núcleo de extensão da faculdade, professora Luciana Ghussn. Já o vice-diretor da unidade, professor Bernardo da Fonseca, acredita que a assessoria da Comuns e de outros órgãos da administração central poderiam cumprir um papel importante nessa divulgação.

Outra reivindicação para otimizar o ingresso de alunos é a diversificação das portas de entrada. Nos últimos dois anos, a FAT foi autorizada a utilizar, de forma excepcional, a pontuação do Enem para preencher as vagas remanescentes do vestibular próprio da Uerj. O resultado levou ao ingresso do triplo dos alunos das seleções anteriores. Para a coordenadora de Extensão, seria importante que essa excepcionalidade se tornasse permanente. “Por enquanto, temos que rediscutir essa possibilidade a cada ano. A gente fica numa situação que não sabe nem explicar nas escolas que visitamos se haverá entrada pelo Enem ou não”, lamenta. Procurada pela Asduerj, a coordenação do Departamento de Seleção Acadêmica da Uerj (Dsea) não quis falar sobre o assunto.

O vice-diretor, Bernardo da Fonseca, e outros docentes da FAT em reunião com as diretoras da Asduerj Beatriz Caldas e Fátima Sueli Ribeiro, no campus da unidade

O distanciamento da administração central também foi apontado como um dos entraves ao desenvolvimento da unidade. “Temos de cuidar de várias coisas que não são funções dos docentes. Seria necessário que tivéssemos a presença de técnicos das pró-reitorias e da prefeitura dos campi em nossa unidade de forma permanente. São condições de trabalho muito diferentes na mesma instituição e a gente é comparado pela mesma métrica”, aponta uma professora. “O que pedimos, na verdade, é uma atenção maior às unidades externas por parte da Reitoria, devido às suas demandas específicas”, sintetiza a coordenadora de extensão, professora Luciana Ghussn.

Essa percepção de abandono se materializa também na insuficiência de financiamento. “Nunca houve investimento no nosso campus. O que conseguimos realizar aqui é a partir de verbas do Sides (Sistema de Desembolso Descentralizado), por meio de recursos captados por editais da Faperj ou de nossos cursos latu sensu”, relata o vice-diretor. O resultado é uma série de precariedades que inclui a falta de mobiliário adequado, como cadeiras e mesas, e até mesmo a insuficiência de laboratórios.

“Precisaríamos de 16 laboratórios, mas só temos sete. Ficamos montando e desmontando material o dia inteiro, o que muitas vezes provoca danos nos equipamentos. Não temos local para ficar. Não temos suporte, nem infraestrutura. Não existe um espaço físico para a pesquisa aqui no campus. Quando precisamos fazer um experimento, temos de esperar uma hora que não tenha aula no laboratório para a gente entrar”, relata uma docente do curso de Engenharia Química.

Situada num amplo e bonito espaço onde antes funcionava uma fábrica da Kodak, a FAT, diferente do campus Maracanã, não tem limitação de espaço. Ao contrário, há um vasto terreno e os resquícios da estrutura da antiga fábrica que possibilitariam sua expansão. Mas, como em outras unidades da universidade, falta investimento em infraestrutura. “Com estrutura hidráulica e elétrica, podemos nos inscrever em projetos para ocupar os laboratórios com os equipamentos. Mas essa estrutura básica é a Uerj que tem de fornecer. Não é possível fazer obra de infraestrutura ou construir um prédio com verba de Sides. Agora, espaço nós temos”, conclui o professor Bernardo.

Sem equipamentos de emergência

Foto: divulgação PR-5

A falta de estrutura ou orientação para procedimentos em casos emergenciais relacionadas à saúde, sejam provocados por acidentes ou outras circunstâncias, foi outra preocupação recorrente apontada pelos docentes da FAT. Eles ressaltaram ainda a peculiaridade da localização do campus, onde não há unidades de saúde próximas.

Questionada pela Comunicação da Asduerj sobre esta demanda, o Comitê de Assessoramento em Ações de Promoção à Saúde da PR-5 informou ter realizado em outubro a 1ª Semana de Promoção da Saúde Universitária, atividade que incluiu o campus de Resende. A ação em parceria com a Faculdade de Enfermagem contou com treinamento de simulação realística, de mobilização em caso de quedas e de ressuscitação cardiopulmonar (imagem acima).

A PR-5 informou ainda que tem visitado os campi externos visando a levantar as demandas de saúde específicas de cada unidade: “Até o momento, identificamos que nenhuma unidade, exceto o campus Maracanã, tem equipamentos para casos de emergências”, afirmou a coordenadora de Assistência em Saúde, professora Alessandra Nunes. Segundo ela, a PR-5 “vem elaborando uma proposta de atendimento emergencial nestes locais”.

Histórico da FAT é alinhado com polo empregatício da região

A Faculdade de Tecnologia (FAT) foi criada em 1993, em Resende, município onde se localiza um dos mais importantes polos industriais do país. Expoente tradicional no setor automobilístico e metalomecânico, a cidade do Sul Fluminense está intimamente ligada às pautas tecnológicas. O campus da FAT ocupou inicialmente um espaço no bairro Morada da Colina e lá permaneceu por cerca de uma década. No entanto, a expansão passou a ser uma necessidade e encontrou um momento oportuno com a doação de um espaço físico feita pela multinacional fotográfica Kodak. A empresa, que encerrou seus atividades na região em 2001, repassou para a Uerj as instalações de sua antiga fábrica, com uma área de aproximadamente 200 mil m² (20 mil m² de área construída). As obras de adaptação aconteceram entre 2004 e 2007, ano em que a FAT foi definitivamente transferida para as novas instalações.

Veja a seguir imagens de alguns dos problemas estruturais da FAT

Em 2019, a FAT recebeu da prefeitura dos campi 62 aparelhos de ar-condicionado, destes, 20 permanecem dentro das caixas devido à insuficiência da estrutura elétrica para a instalação. A precariedade da estrutura elétrica também fez com que um aparelho de cerca de 1 milhão de reais permanecesse parado por 1 ano.
Apesar das amplas instalações recebidas da antiga fábrica da Kodak, a unidade não conta com investimento para a criação de laboratórios ou mesmo de um auditório que comporte eventos rotineiros, como a formatura de seus alunos.
Alguns dos laboratórios funcionam em antigos galpões da fábrica, com tetos cobertos por telhas de amianto. O calor no verão é insuportável, relatam os alunos.
As ruínas da antiga fábrica, onde a unidade poderia construir alguns dos nove laboratórios necessários para o curso de Engenharia Química.
A fachada de um dos prédios que deveria dar lugar a laboratórios está com rachaduras e ferragens das vigas expostas.
O mobiliário das salas de aula foi em grande parte doado por escolas locais, e foram feitos na medida para crianças e adolescentes, mas inadequado para os jovens e adultos alunos da FAT.
Faltam vasos sanitários nos banheiros. O prédio que abriga os terceirizados tem apenas um vaso sanitário no banheiro masculino, que serve a mais de 60 trabalhadores.


O prédio que abriga os terceirizados tem apenas um vaso sanitário no banheiro masculino, que serve a mais de 60 trabalhadores.

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