Sessão do Consun é marcada por cortes no microfone de conselheiros, que permanecem sem resposta sobre investigações de projetos da Uerj

0
948

Valendo-se de uma norma estatutária que indica um tempo de 30 minutos de expediente antes da discussão da ordem do dia, dispositivo raramente utilizado por uma Presidência dos Conselhos, o reitor Mário Sérgio Carneiro limitou o número de intervenções e cortou falas de diversos conselheiros no início da sessão extraordinária do Conselho Universitário da Uerj, realizada na manhã desta quarta-feira, 7/6.

– Hoje temos uma questão muito importante, que é a proposta de calendário eleitoral. Informo que para garantir a duração do expediente a palavra será cortada exatamente quando tiver 3 minutos de fala de cada conselheiro, declarou o reitor ao abrir a sessão.

Com as galerias lotadas e um clima tenso, a sessão, mais uma vez, frustrou as expectativas dos que aguardam respostas da Reitoria à cobrança por uma apuração transparente e completa das suspeitas envolvendo projetos da Uerj financiados com orçamento descentralizado.

Em uma das primeiras falas, um conselheiro pediu à atual administração que tente se antecipar a possíveis escândalos com medidas proativas “para que o nome da Uerj não submerja na lama”. “Tenho certeza que as informações estão disponíveis. A gente sabe que errou. A gente precisa começar a atuar e não só reagir”, apelou.

Outro conselheiro lembrou do caso da repositora de supermercado que, segundo um portal de notícias, chegou a ganhar de 20 a 37 mil reais por mês, e questionou a razão da contratação. “A Reitoria alega que nesta universidade há valorização de conhecimentos empíricos. Muito interessante que haja essa valorização, mas queria que isso também acontecesse com os técnico-administrativos desta universidade”, reclamou, numa das muitas falas cortadas antes do seu término.

Em outra fala, também interrompida, a representante da Faculdade de Educação questionou o uso que a Reitoria vem fazendo da ideia de conhecimento empírico.

– As notas que esta universidade tem lançado para justificar a contratação de um jovem de 19 anos ou de adultos das mais variadas atuações e estabelecer que isto se fundamenta nas práticas de valorização de saberes da experiência não são dignas desta universidade e do conhecimento que se produz aqui. A experiência tem importância. Agora tem muito mais importância para uma universidade, que tem uma função social de formação, usar do seu próprio quadro docente, discente e técnico para a realização destas atividades.

A conselheira destacou ainda a desproporção entre os valores pagos a pessoas contratadas por alguns destes projetos sob suspeita em relação ao que recebe alunos bolsistas da universidade. “Uma destas bolsas de R$ 15 mil reais (dos projetos sob suspeita) paga 23 bolsas de iniciação científica da Uerj, no valor de R$ 651 reais”, destacou ela, antes de ter o microfone cortado.

“Estou bastante constrangido com essa postura de vossa excelência de cortar as falas dos conselheiros. É a primeira vez que participo de uma sessão em que isso acontece”, reclamou um outro conselheiro, que também teve sua voz interrompida.

Antes de iniciar a ordem do dia, o reitor falou sobre os projetos sob suspeita, reafirmando que tudo que estiver de errado está sendo e será apurado pela Uerj, pelo Ministério Público Eleitoral, pelo Federal e pelo TCE. “Não tenho dúvidas de que os culpados, se existirem, serão punidos”.

Já na ordem do dia, um dos conselheiros que não teve oportunidade de falar durante o expediente, destacou o que definiu como autoritarismo no Consun. “Hoje temos uma reunião bastante cheia. É bom que as pessoas venham aqui assistir ao que acontece nesse Conselho. Assistir ao grau de pressão e autoritarismo. Cobramos uma apuração (dos projetos sob suspeita) em praticamente todas as sessões. Mas o discurso não muda. É sempre… ‘Estamos apurando… existe o Ministério Público, etc, etc’. A universidade é o espaço central do debate. E o debate faz a ciência avançar, faz a sociedade avançar e faz a política avançar. Toda vez que sepultamos o debate, atrasamos todo o processo”, concluiu.

Consun aprova calendário eleitoral de 2023

Após alongada discussão sobre regulação da pré-campanha, o Conselho Universitário aprovou, por unanimidade, o calendário das eleições para os cargos executivos da Uerj, que acontecem no segundo semestre de 2023.

O prazo para desincompatibilização e inscrição de candidaturas será entre os dias 28 de agosto e 3 de setembro. A divulgação das inscrições será no dia 5 de setembro. A votação ocorrerá de 7 a 9 de novembro, com apuração logo após o término da votação. A divulgação do resultado será no dia 13 de novembro.

Caso haja segundo turno, a votação será do dia 28 a 30 de novembro. A apuração ocorrerá no dia 01 de dezembro e a divulgação do resultado no dia 8 de dezembro.

A comissão eleitoral regulamentará a pré-campanha.

Eleições para os Conselhos Superiores

A comunidade da Uerj elegerá, a partir do dia 13 de junho, os membros do Conselho Universitário (Consun) e do Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (Csepe) para o biênio 2023-2025. Servidores e estudantes poderão escolher os representantes técnicos e docentes, via internet.

Artigo anteriorSepe-RJ segue mobilizado e mantém greve na rede estadual do Rio de Janeiro
Próximo artigoFortaleça as lutas da sua categoria: divulgue e participe!