Com muita satisfação, apresento o número 42 da revista Advir, em que pude contribuir como editora convidada. É a segunda vez que cumpro essa tarefa como professora filiada ao Andes – Sindicato Nacional, por meio da Asduerj – Seção Sindical. Havia sido editora
convidada no número 36, em 2017, quando, junto com a Professora Dra. Elaine Rossetti Behring, publicamos um Dossiê sobre a Dívida Pública com convidados de diversas universidades. A Advir é um patrimônio histórico da categoria docente da Uerj, com reconhecido
valor político e acadêmico, referenciado inclusive pela avaliação de nossos pares em órgãos de fomento à pesquisa.
Em tempos de neoliberalismo e ascenso de uma política neofascista anticientífica que venceu em 2018 eleitoralmente a presidência no Brasil, após um golpe jurídico e parlamentar no governo eleito de Roussef, primeira presidente mulher do Brasil, é um imenso orgulhoso nossa seção sindical docente do Andes – SN ter, por já tantos anos, um instrumento de debates de qualidade, para a divulgação de uma ciência crítica, criativa e referenciada na maioria da população.
Significa que, ao contrário do questionamento da existência e da legitimidade da organização sindical da classe trabalhadora, os docentes da Uerj podem, por meio da Asduerj, divulgar conhecimento de forma coletiva. Pesquisas que fortalecem debates estratégicos
em defesa de uma universidade pública, gratuita, democrática, socialmente referenciada, presencial, e de uma carreira docente alicerçada em direitos.
Nesse número, retomamos a discussão sobre o impacto da pandemia de Covid-19 na educação e na particularidade das universidades no Brasil. A necessidade de isolamento social para prevenção da contaminação pelo vírus da Covid-19, ainda que negada e combatida pelo governo, teve nos profissionais da educação superior, e da educação de maneira geral, um amplo foco de disputa e afirmação. Ainda que essa disputa tenha sido fundamental na redução da tragédia social anunciada, a falta de medidas para a sobrevivência da maioria dos trabalhadores sem empregos formais e de direitos de moradia e assistência social, que garantissem o cuidado para a preservação de sua vida, fez com que a suspensão do ensino presencial fosse apresentado como privilégio dos trabalhadores públicos da educação que tiveram suas atividades remotas, sem estrutura, pagos com seus próprios salários e, em muitos casos, intensificados para a elaboração de um planejamento de ensino remoto inédito e sem recursos, invisibilizados pelo governo e pela mídia.
A pandemia de Covid-19, um trágico evento no lento apocalipse para os trabalhadores em nossos tempos, que teve seu auge nos anos de 2020 e 2021, não é um evento isolado, mas parte das condições concretas de produção e reprodução do capitalismo contemporâneo a que Ricardo Antunes chama de “capitalismo pandêmico”. É certo que essas particularidades fazem parte da totalidade do modo de produção capitalista. No entanto, a investigação teórica precisa exatamente buscar como a dialética entre universal e particular faz
emergir no curso histórico novas formas de expropriação de meios de produção, exploração do trabalho pelo capital, mediação dos Estados e reciclagem de ideologias que reafirmam os mecanismos de consenso e coerção para garantia da hegemonia e dominação no
capitalismo e, ao mesmo tempo, contraditoriamente, novas formas de solidariedade e organização da classe trabalhadora. Particularidades que afetam de forma contundente o trabalho docente nas universidades públicas brasileiras, com uma escala permanente de destruição de condições de trabalho associada a múltiplas formas de sua intensificação e individualização, mas que também se transmutam em força coletiva e criatividade para inventar o futuro.
O número 42 retoma a chamada pública de artigos avaliado por pareceristas na sessão temática “Universidade e Pandemia” e em temas livres. Tivemos como convidados da sessão temática professores ex-diretores do Andes-SN e da Asduerj, além de textos de conjuntura com diversas perspectivas: os efeitos da pandemia para os estudantes, para o movimento sindical, para o ensino presencial e para a educação superior, e a análise do crescimento da extrema-direita no Brasil. A todos e todas autores/as e pareceristas, nosso
agradecimento pela rica contribuição.
Além disso, publicamos entrevista concedida à Asduerj pela pesquisadora e professora Dra. Margareth Dalcolmo, intelectual pública de extrema importância na defesa da ciência brasileira e uma sessão de fotos que é parte do trabalho com Questão Social e Imagem,
da Professora Dra. Tainá Souza Caitete em homenagem às vítimas da pandemia e aos trabalhadores da Uerj, o que torna esse número um documento histórico do período para nosso sindicato.
Para a organização desta publicação, tive o apoio inestimável da direção e dos funcionários da Asduerj e dos professores que recompuseram o Comitê Editorial da Advir em A todos/as, agradeço a experiência que me (re)comprovou que trabalho sindical e
acadêmico não são a mesma coisa, mas fazem parte de uma totalidade que pode ser vivida com rigor e competência ético-política, teórico-metodológica, técnico-operativa e, também, com participação coletiva, companheirismo e alegria.
- Encerro com a citação da Professora Titular da Faculdade de Serviço Social da Uerj, aposentada, Dra. Marilda Iamamoto, para quem “a investigação quando compromissada em libertar a verdade de seu confinamento ideológico, é certamente um espaço de resistência e luta.”
- Vida longa à Advir!
Juliana Fiuza Cislaghi- Editora convidada (Advir 42), Professora Dra. da Uerj, filiada ao Andes SN pela
- seção sindical Asduerj, Diretora da Asduerj nos biênios 2012-2014 e 2014-2016,
- Vice-presidente regional do Andes no biênio 2016-2018.