Como registramos aqui, a Comissão de Apuração dos Fatos e Responsabilidade em Projetos divulgou no dia 31 de março o relatório de sua investigação, numa concorrida sessão extraordinária do Conselho Universitário (Consun). Desde então, pouco se soube dos encaminhamentos feitos pela administração da universidade sobre o assunto, além das promessas do Reitor de encaminhar o documento (considerado por alguns conselheiros como frágil e insuficiente) ao TCE, ao MPRJ e aos órgãos de controle da universidade.
Por sua vez, e como já se esperava, não cessaram as publicações pelo Portal de Notícias com detalhamentos e acréscimos de novas denúncias. Outros e inusitados personagens foram apontados como favorecidos pelo esquema, incluindo parceiros de um famoso ex-jogador de futebol, reeleito recentemente para o senado com apoio do clã bolsonarista.
Outra reportagem divulgada na quinta-feira, 27/4, tem como base depoimentos de pretensos “bolsistas” da Uerj, que afirmam ter participado de um esquema de rachadinha. Segundo estes, a maior parte das vultosas bolsas que receberam, com valores de até R$ 34 mil reais brutos, foi devolvida por meio de pagamento de boletos de empresas ou, via PIX, para contas bancárias indicadas. Alguns dizem ter sido convidados a participar dos projetos por pessoas ligadas a candidaturas de deputados.
Além de mencionar o nome de uma docente da Uerj, responsável pelas contratações do projeto que mais recebeu verba de orçamento descentralizado (R$ 641 mil), a matéria refere ter ouvido de vários dos supostamente envolvidos no esquema uma resposta padrão: “procure a Reitoria da Uerj”. Ouvida pelo Portal, a Reitoria teria dito que instalou uma “Comissão Permanente de Apuração” desses fatos.
Hoje, sexta-feira, 28/04, foi publicada nova reportagem. Nela, é mencionado que um programa que visa a criar núcleos de qualificação profissional foi renovado. Tal programa foi encerrado em dezembro do ano passado no bojo do AEDA 134/2022, que nivelou equivocadamente todos os múltiplos projetos da universidade financiados por contratos, convênios ou descentralizações de créditos orçamentários. Entre estes, há projetos consistentes, além de valiosos socialmente e academicamente, mas que foram equiparados pelo Ato Executivo aos projetos sob suspeita. O programa que trata a reportagem, por exemplo, teria pagado R$ 23,7 milhões a bolsistas somente entre abril e agosto de 2023. Dentre os envolvidos no projeto, cita-se uma apadrinhada de um deputado estadual do Partido de Bolsonaro. Como renovar e por que renovar tal projeto com suspeitas de irregularidade? A administração central precisa urgentemente explicar motivos, conveniências e oportunidades.
Até quando teremos de amanhecer com o nome da Uerj estampado em reportagens críveis, como se refere o próprio relatório apresentado ao Consun, que indicam, com detalhamentos, ter sido a universidade usada por esquemas milionários de desvio e malversação de recursos públicos, com a finalidade de beneficiar grupos políticos, no caso de extrema direita, sem que a Reitoria responda com evasivas? Quais as consequências geradas pelo Relatório da Comissão de Apuração criada pela Reitoria no que se refere à responsabilização pelos fatos apontados? Essas perguntas não podem continuar sem respostas.
#Paratodosverem: A imagem que ilustra a matéria é uma foto colorida de parte da fachada do prédio principal do “campus” Maracanã, sob um céu nebuloso. Fim da descrição.